Pesquisa sem frescura

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Corda Bamba

Ultimamente tenho trabalhado muito em obras, visto um bocado das incoerências da arquitetura, da vida urbana, do trabalho. Apesar de não estar nos projetos mais geniais do nosso tempo, começo a entender os perigos teóricos e práticos da profissão.

Conduzir uma obra é como andar na corda bamba. Você pode se equilibrar perfeitamente o tempo inteiro, mas, se cair no final, o resultado é o mesmo de cair no começo
.

Uma tragédia arquitetônica é tão mais trágica quanto mais tempo se leva para encerrá-la.

5 comentários:

Kim Ordonha disse...

Um tanto obscuro teu comentário. Divida conosco esses perigos teóricos e práticos. Eu, particularmente, noto que é dado como tragédia arquitetônica sempre problemas técnicos, pelos quais nem sempre somos preparados adequadamente na graduação, ao passo que as tragédias mais sérias são notadas por poucos,
e sedimentam opções culturais nefastas. E tragédia é quando provoca catarse; uma fatalidade que nos foge o controle. É essa perda do domínio que chama de corda bamba?

Arthur Francisco disse...

O sr. Paulo Mendes tem uma frase - ou atribuem a ele - que a arquitetura tem de evitar o desastre, ou coisa assim. É difícil acreditar que São Paulo tenha se esforçado nesse sentido. Se eu penso que a cidade já caiu dessa corda, é porque sinto que, na queda, ainda não atingiu o fundo do abismo - aquele momento em que, comicamente, balançamos os braços tentado voar. Uma tragédia "que nos foge o controle", já fugiu. Não importa se é um encanamento mal-feito que estoura atrás de cinco camadas de revestimento e mármore, ou uma linha de metrô feita cinco quilômetros fora do eixo, ou a concepção de mais uma política urbana elitista: o projeto precisa perceber que não pode enveredar a construção (da casa ou do mundo) para caminhos sem volta, para ilusões e falsas promessas, para ciladas. A obra é a corda bamba, o projeto é a vara que nos equilibra.

Victor Dariano disse...

sugiro que poste o seu comentario ja que, penso eu, poucos leem comentarios...
Tambem fiquei curioso quando li... e deprimido...

Anônimo disse...

a imagem é bonita: obra como corda-bamba, projeto como vara. Mas acho uma imagem ainda falha: o projeto realmente é a vara, a única coisa que dá algum equilíbrio, mesmo que absolutamente instável (e acho que a imagem é bonita mesmo por deixar claro que um projeto coerente é feito com consciência de sua inevitável instabilidade).

Mas acho falha pois tendemos a nos esquecer de que poderíamos transformar a corda que a obra representa em uma ponte, igualmente estável e equilibrada. :)

Arthur Francisco disse...

Oê! Você aqui de volta! Que bão...
Então, essa sua vontade é muito mais interessante do que andar na corda bamba, sem dúvida. Mas uma ponte não traduz (pra mim, agora) a angústia de ter de se equilibrar o tempo inteiro no processo, correndo o risco de cair a qualquer hora... Essa ponte é a obra ideal entre o desejo e a realização. Nessa terceira-mundice que me resta, ainda tenho de controlar meus batimentos cardíacos...