Ultimamente tenho trabalhado muito em obras, visto um bocado das incoerências da arquitetura, da vida urbana, do trabalho. Apesar de não estar nos projetos mais geniais do nosso tempo, começo a entender os perigos teóricos e práticos da profissão.
Conduzir uma obra é como andar na corda bamba. Você pode se equilibrar perfeitamente o tempo inteiro, mas, se cair no final, o resultado é o mesmo de cair no começo.
Uma tragédia arquitetônica é tão mais trágica quanto mais tempo se leva para encerrá-la.
5 comentários:
Um tanto obscuro teu comentário. Divida conosco esses perigos teóricos e práticos. Eu, particularmente, noto que é dado como tragédia arquitetônica sempre problemas técnicos, pelos quais nem sempre somos preparados adequadamente na graduação, ao passo que as tragédias mais sérias são notadas por poucos,
e sedimentam opções culturais nefastas. E tragédia é quando provoca catarse; uma fatalidade que nos foge o controle. É essa perda do domínio que chama de corda bamba?
O sr. Paulo Mendes tem uma frase - ou atribuem a ele - que a arquitetura tem de evitar o desastre, ou coisa assim. É difícil acreditar que São Paulo tenha se esforçado nesse sentido. Se eu penso que a cidade já caiu dessa corda, é porque sinto que, na queda, ainda não atingiu o fundo do abismo - aquele momento em que, comicamente, balançamos os braços tentado voar. Uma tragédia "que nos foge o controle", já fugiu. Não importa se é um encanamento mal-feito que estoura atrás de cinco camadas de revestimento e mármore, ou uma linha de metrô feita cinco quilômetros fora do eixo, ou a concepção de mais uma política urbana elitista: o projeto precisa perceber que não pode enveredar a construção (da casa ou do mundo) para caminhos sem volta, para ilusões e falsas promessas, para ciladas. A obra é a corda bamba, o projeto é a vara que nos equilibra.
sugiro que poste o seu comentario ja que, penso eu, poucos leem comentarios...
Tambem fiquei curioso quando li... e deprimido...
a imagem é bonita: obra como corda-bamba, projeto como vara. Mas acho uma imagem ainda falha: o projeto realmente é a vara, a única coisa que dá algum equilíbrio, mesmo que absolutamente instável (e acho que a imagem é bonita mesmo por deixar claro que um projeto coerente é feito com consciência de sua inevitável instabilidade).
Mas acho falha pois tendemos a nos esquecer de que poderíamos transformar a corda que a obra representa em uma ponte, igualmente estável e equilibrada. :)
Oê! Você aqui de volta! Que bão...
Então, essa sua vontade é muito mais interessante do que andar na corda bamba, sem dúvida. Mas uma ponte não traduz (pra mim, agora) a angústia de ter de se equilibrar o tempo inteiro no processo, correndo o risco de cair a qualquer hora... Essa ponte é a obra ideal entre o desejo e a realização. Nessa terceira-mundice que me resta, ainda tenho de controlar meus batimentos cardíacos...
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