Pesquisa sem frescura

segunda-feira, 29 de março de 2010

Série "Grandes Designers" - 007


Esta eu agradeço ao Milhas, o Angelo - o homem membro, de que tanto se fala - por me emprestar esse volume riquíssimo que é o Aleph, de Jorge Luis Borges. Mais abaixo, derivações triviais.

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Já de cara faço minhas desculpas assim como fez o autor:
"Naquele instante gigantesco, vi milhões de atos deleitáveis ou atrozes; nenhum me assombrou tanto quanto o fato de todos ocuparem o mesmo ponto, sem superposição e sem transparência. O que meus olhos viram foi simultâneo: o que transcreverei, sucessivo, porque a linguagem o é. Algo, contudo, recuperarei." (grifos meus)

Assim também afirmo que o que está no primeiro quadrinho, encerrado por suas abstratas bordas negras, também é o precário recurso da linguagem da imagem, ainda que - perdão - contradigam imediatamente o autor original.

Mas elaboro três hipóteses para a experiência relatada - sem pretensão, apenas para instigar nossa imaginação.

A primeira é a de que o personagem nada viu, de fato. Na velocidade de uma bala adentrando o crânio, uma pulsação sobrenatural o invade, continente de todas as informações. Quem aciona a visão é o próprio cérebro - não o Aleph! - traduzindo em imagem aquela violência. Porque os homens são criaturas imagéticas. Um cego talvez experimentasse outro Aleph.

A outra salva a experiência ocular de fato. Se uma mariposa passasse ao lado do Aleph naquele instante, um único bater de asas da primeira conteria horas e horas de acontecimentos exibidos no segundo. Uma ruptura local no tempo também. Um pouco de fé em teorias físicas modernas ajuda nesse caso.

A terceira está na tirinha. A Televisão, por sua natureza hipnótica, achata o tempo e azeda o espaço. Como diz Steven Wilson, nela abdicamos de nossa curiosidade e dos nossos desejos. E aqui invento um absurdo. A logomarca da rede Globo é o Aleph na Terra (como na citação do quadro 1, grifada por mim).

7 comentários:

Victor Dariano disse...

deeeenso hein....vou ler o conto antes de comentar

Airton Junior disse...

que medooooooo!!!!

Victor Dariano disse...

achei o conto...tentarei ler hj

gabriel disse...

legal a tirinha

a globo cria um universo pra si própria, consegue sintentizá-lo em si mesma. É como se o universo lá fora não existisse.

mas se a tv é o aleph, então a internet é o jardim das veredas que se bifurcam?

Arthur Francisco disse...

A TV não é o Aleph. Não o de Borges. Mas na analogia faz as vezes, pelos motivos citados. A internet? Essa é muito mais múltipla, mas para quem souber usá-la. Mas mais complicada que a manifestação formal do Aleph é o resultado de sua experiência. Esfera luminosa, TV, internet, literatura, arquitetura... Qualquer coisa que nos anestesie para a apatia, que nos faça desistir do mundo, de senti-lo e vivê-lo, será um Aleph.

Victor Dariano disse...

acabei de ler...
muito boa a tirinha, tudo a ver com esse momento BBB, onde as pessoas se veem naquele universo falsificado, um "reality"show onde as pessoas se gabam por jogar, ou seja, serem falsas.

não somente é pertinente a comparacao da tv com o Aleph, como no texto original a passagem em que a personagem tem sua experiencia "psicotropica" com o Aleph visualizei na minha mente como num filme...

talvez por ja ter visto cenas parecidas em filmes...este "rosto" me é familiar...

Arthur Francisco disse...

Que reação em cadeia infernal, rapaz!
(Finalização digna do nome)