Pesquisa sem frescura

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Contexto a prova de tempo???

 Mas e quando esse contexto não é anacrônico?
    Achei o tópico postado pelo Victor bastante estimulante, e comecei a refletir sobre o assunto até me deparar com a seguinte questão: qual a validade desse tal de “contexto”?

    Em São Paulo temos exemplos inusitados disso, e tenho certeza que o Victor vai dar boas risadas de meu primeiro exemplo: o Cine República.

    Eu e o Victor conhecemos bem o lugar, ahauhauah e não se assustem, não por sermos freqüentadores, nos apenas o conhecemos devido aos caminhos que nossa atividade profissional nos levou.



Cine República: Posto somente uma foto antiga, pois uma foto mais recente seria Rated R!


Quem diria que a primeira sala de cinema da cidade, um ícone da elite paulistana do inicio do século, e um ícone das glamorosas arquiteturas ecléticas deste mesmo período, tenha se tornado um point de sexo barato e “alternativo”.

Um outro exemplo bem interessante é o pavilhão localizado acima do edifício Viadutos de Artacho Jurado. Localizado no Viaduto Jacarei, em frente a Camara Municipal de São Paulo, aqui também temos um edifício que já foi ícone da emergente classe media e burguesia dos anos 50.



Sua cobertura apresenta uma experiência única para os amantes da arquitetura, um pavilhão concebido especialmente para bailes de valsa, e uma astonteante visão de 360 graus da metrópole.

Abaixo deste salão temos um mirante espetacular cuja vista é explorada no vídeo abaixo!! A visita que fiz nesse lugar foi uma das coisas mais fantasticas que vivenciei aqui na cidade!!






Se o nível social dos habitantes decaiu consideravelmente neste edifício, que nas noites ermas do centro paulista representa um oasis de segurança, seu uma vez grandioso salão hoje se encontra interditado devido aos grandes prejuízos obtidos durante as suas locações.





O grande salão do Viadutos  já abrigou bailes glamorosos, e até tentou se adaptar aos novos tempos sendo alugado para casamentos e coquetéis, mas hoje se encontra interditado principalmente em função dos beberrões que se acidentavam ao perceber que a única coisa que os separava de centenas de metros era um grande caixilho de vidro: uma grande perda para todos nós!!!

9 comentários:

Bang disse...

otimo post !
eu concordo o post do senhor felipe..

bom fazer o que ? temos que aceitar as mudanças do contexto urbano e tal..

é isso.. continue postando !

Victor Dariano disse...

"nós somente conhecemos devido aos caminhos que nossa atividade profissional nos levou..."

cara...isso continua comprometedor hehehe

enfim, é muito triste ver o que os glamurosos cinemas do centro da cidade se tornaram. Principalmente pelos seres humanos que se submetem a condicoes escrotas, literalmente.
Dai minha revolta daquele projeto da cidade do sexo.

Quanto ao viadutos, sempre ouvi comentarios negativos, mas eu acho um edificio bem resolvido e eu gosto da maneira como o salão da cobertura se destaca do restante, me faz lembrar os primeiros predios da cidade que tinham "palacetes"na cobertura, mas no caso do viadutos é um espaço para encontro...não digo público porque seria exagero

Arthur Francisco disse...

Não público no sentido de "praça", mas público no sentido de que não é usufruído por um proprietário. Esse é um edifício muito marcante, apesar de alguns críticos o considerarem bastante brega (eu acho que tem coisa contemporânea muito mais).

Quanto ao descaso social no centro da cidade, é tão polêmico que nem me permito comentar.

Unknown disse...

"nós somente conhecemos devido aos caminhos que nossa atividade profissional ARQUITETONICA nos levou..." haauahah, melhorou?

nossa as condições ali realmente são subhumanas!!imagino as pobres pessoas que tem que fazr vistoria nesses cinemas né? eu lembro das tecnicas falando sobre como os donos, muitas vezer ainda os originais, se envergonhavam de ter que passar aquilo para sobreviver!

Victor Dariano disse...

concordo Arthur, nesse sentido dá pra aplicar a palavra público.

e pra quem nao sabe, eu e o Felipe trabalhamos juntos um tempo na proteção do patrimônio histórico, onde aprendemos entre outras coisas que existia um rinque de patinação, perto da Rua Sta Ifigenia, na chamada "rua do rink" em pleno sec. XIX

gabriel disse...

os espaços marginais, os resíduos, as bocas de lixo e outras lândias similarmente evitadas pelos "cidadãos de bem" constituem uma territorialidade em meio aos centros urbanos de difícil assimilação ou entendimento por parte da (por natureza, arrogante) "academia".

"periferia é periferia em qualquer lugar". No entanto os espaços marginalizados do centro possuem uma singularidade fantástica - histórica, arquitetônica, visto que são resíduos de um processo de acumulação das elites que foi abandonado. Enfim: diferente das periferias, a "periferia no centro" é constituída de espaços ocupados, apropriados, utilizados das mais inventivas maneiras, ao invés de "autoconstruídos", ao invés de "batidos no sábado com uma feijoada".

isto faz toda a diferença e é isto que os torna tão fascinantes. E tão odiados pelas elites. E tão potenciais.

Não estou querendo fetichizá-los nem forçar neles uma percepção de mundo acadêmica, mas é preciso dizer: o preconceito que as elites têm destes espaços tem muito a ver com o que o Lefebvre fala do "marginal" (germe da revolução).

Recentemente a prefeitura de são paulo lançou editais para financiar a produção de documentários sobre cada um distritos de são paulo. O documentário sobre a santa ifiênia é IMPERDÍVEL. Genial: mostra como a política higienista dos tucanos (representada pelo Andrea Matarazzo, entrevistado no documentário), além de elitista, evidentemente, é também patética, deslocada. Ignora toda a tradição do samba na região, a cultura ligada às finadas produtoras de pornochanchada, até mesmo o comércio informal de informática e música, etc.

Fica evidente que, em se tratando de território, estamos lidando com um conflito por PODER, mais até do que um conflito por dinheiro. As putas, os malandros, os travestis, os velhinhos (que são os principais frequentadores dos cinemas pornô), entre outras personagens típicas, são então encarados como lixo, como inimigos da ordem pública, como símbolo da decadência, como o alvo a ser enfrentado para limpar a região e dotá-la de melhores frequentadores.

Será que a revolução no Brasil, segundo o raciocínio lefebvriano, está nos malandros, nas putas, nos travestis, nos velhinhos tarados? é no mínimo uma bela provocação para nós, os "especialistas", hehe. ;)

aliás: http://www.botecosujo.com/2010/01/sacanagens-do-centro-velho-de-guerra.html

gabriel disse...

aliás, outra coisa legal a respeito de como se criam imagens a respeito do conceito de "marginal" é estudar a trajetória da construção da ideologia da "tolerância zero" em nova iorque. Ela está diretamente relacionada com a cultura do grafiti, que nos anos 70 foi um verdadeiro movimento espontâneo, descentralizado, desorganizado, mas altamente eficaz, de afirmação de classe no espaço urbano (ainda que isto seja rechaçado eventualmente pelos seus próprios autores). A "tolerância zero" foi uma política de distorção da ideia de segurança pública assocada diretamenta a uma pretensa proteção do patrimônio construído.

Arthur Francisco disse...

Não que eu não concorde ou aprecie o comentário, Gabriel, mas podia passar o link prum post do seu blog! (Que, aliás, figura na nossa hot-list!) : )

gabriel disse...

acho que tem um pouco a ver com a opinião do mike davis: http://notasurbanas.blogsome.com/2009/05/02/repost-mike-davis-new-urbanism-e-koolhaas/ ("Arquitetos, em particular, são inclinados a abraçar slogans e ícones em vez de fazer um esforço para entender a atual política que molda a forma urbana.")