Pesquisa sem frescura

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

“Versões do Modernismo – Coleção Tuiuiu”

Este artigo apresenta uma análise da exposição “Versões do Modernismo – Coleção Tuiuiu”, e faz parte da série “O olhar do Colecionador”.  A curadoria é de Thiago Mesquita, e o local de exposição é o Instituto de Arte Contemporânea, localizado no Edifício Joaquim Nabuco do Centro Universitário  Maria Antonia.


Tomada da fachada do Instituto de Arte Contemporânea, a partir de um plano levemente elevado em relação a rua: a sutilza de um desnível configurando um controle na permeabilidade do pedestre.
Fonte: http://saopaulo.unlike.net/locations/304935-Instituto-de-Arte-Contempor-nea.

A exposição “Versões do Modernismo – Coleção Tuiuiu”, que faz parte da série “O olhar do Colecionador”, tem a curadoria de Thiago Mesquita e se localiza no Instituto de Arte Contemporânea, parte do Centro Universitário Maria Antonia. O mote desta da série da qual esta exposição pertence consiste em uma coletânea de coleções particulares de arte, de modo a revelar sua riqueza para o publico geral.
Devido ao limite físico do artigo, esta análise se limita a uma abordagem geral da exposição, assim como uma abordagem um tanto mais aprofundada de algumas obras cuja importância na exposição foi relevada em entrevista com monitores da exposição.
No entanto, as coleções contempladas nesta série de exposições muitas vezes tinham uma quantidade de obras enorme, e assim evocaram uma análise cuidadosa por parte do curador Thiago Mesquita. Esta análise, teve como fruto a concepção de um recorte temático para cada coleção.
No caso da exposição visitada, a coleção contemplada é de propriedade de Luciana e Luis Antonio de Almeida Braga. O título desta exposição se trata de referencia literal ao “recorte” concebido pelo curador Thiago Mesquita. Este recorte é um reflexo da grande preocupação do colecionador Luis Antonio de Almeida Braga em “estar presente em todas as etapas proeminentes da arte nacional”  e se evidencia na disposição as peças ao longo do espaço de exposição disponível no Instituto de Arte Contemporânea. 
A exposição está divida em duas salas. O primeiro ambiente de exposição, localizado logo após uma antecâmara que abriga a circulação vertical do edifício, retrata obras de um caráter mais “tradicional”  isto é, mais condizente com a adaptação das correntes modernas ao cenário nacional após sua instituição oficial na Semana de Arte Moderna de 1922. Neste ambiente, a obra de maior proeminência é o “Cartão Postal”, de Tarsila do Amaral, datado de 1929:


Fonte: acervo particular

Nesta obra de Tarsila do Amaral, fica evidente o forte desejo do colecionador em estar presente nos momentos mais marcantes da historia da arte nacional. Em “Cartão Postal”, Tarsila nos demonstra a maneira como procura adaptar conceitos modernos que regiam suas influencias, mais conspícuas nas lições do cubista Legere , para com aspectos importantes da cultura nacional. Estes aspectos das cultura nacional estão presentes nas cores tropicais que a artista utilizou, assim como na verdadeira “colagem”   de paisagens nacional como o pão de açúcar, a selva tropical e a caatinga nordestina.
De um ponto de vista arquitetônico, se destaca o trabalho de Alfredo Volpi presente neste ambiente da exposição, representados por: “Elementos Geométricos” , da década de 50; por “Elementos de Fachada”, do fim da década de 50/início da década de 60; e por duas peças de “Fachadas” da década de 60. 
Nestes exemplares de Volpi, se notam cores e temáticas ligadas ao cenário nacional, e elementos geométricos preponderantes porem sem indícios de industrialização presentes nos exemplos das obras do ambiente seguinte da exposição. Isto é, a geometrização obtida nestas peças não foi obtida por meio de réguas ou demais instrumentos de precisão mas a mão livre; a tinta com a qual estas obras foram concebidas é caseira ao invés da tinta automotiva usada nas obras do ambiente seguinte.
Neste agrupamento de obras, o abstrato é obtido através de um padrão geométrico, mas sem a rigorosidade de regras matemáticas.

“Elementos Geometricos”, decada de 50
Fonte: acervo particular

“Elementos da Fachada”, final da decada de 50/inicio da decada de 60
Fonte: acervo particular

Já o outro ambiente da exposição é dotado de obras de artistas mais ligados ao que estudamos em sala como sendo “arte contemporânea” propriamente dita. Isto é são obras de caráter mais universal, que transpõem as antigas barreiras da bi-dimensionalidade, dos materiais e da exploração do potencial sensorial do ser humano. Um dos exemplos mais proeminentes de obras nesta seção é o  “Cubo Vazado”, de Franz Weissmann, de 1951:


Fonte: Acervo Particular.

A presença desta obra na exposição mais uma vez demonstra a preocupação do colecionador de estar presente nos momentos marcantes da arte nacional, devido importância desta obra e toda sua historia na 1ª Bienal e a maneira como sofreu influencia de Max Bill. Segundo Frederico Morais, "O Cubo Vazado, 1951, de Franz Weissmann, é a primeira escultura rigorosamente concreta realizada no Brasil. Nele, o verdadeiro material não é o aço, mas o vazio. Mas este não deve ser visto como ausência de massa - o oco da forma. Weissmann não desbasta nem agrega materiais, ele cria espaços, lida com estruturas. O vazio é, na verdade, uma presença, um espaço novo, surpreendente. É um silêncio que subitamente grita e se faz ouvir. Contudo, é na torção que reside a essência de sua operação visual, hoje. Toda torção guarda a memória do corpo. As estruturas torsas de Weissmann também. As mãos do artista estão, subjacentemente vergando, inclinando, encurvando, encaracolando, labirintizando ou desarticulando cubos, colunas, lâminas fitas. Nas esculturas de grande porte, destinadas ao espaço público - cantoneiras, canaletas, torres, etc. - , o substrato tecnológico-industrial é quase um estilo: flores de aço". 
Neste ambiente da exposição também temos a presença de obras marcantes do neo-concretismo, como o “B8 Bólide Vidro2” de Helio Oiticica e a alguns “Bichos” de Ligia Clark. Estas obras são marcantes na historia da arte nacional por justamente representarem um transalado da bi-dimensionalidade para a trimensionalidade, e instigarem um contato maior com os sentidos humanos. São obras participativas aonde o usuário tinha a possibilidade de transformar a obra a seu próprio gosto, uma vez que hoje isso não ocorre mais devido a necessidade de sua preservação. 
Este incentivo a participação se torna ainda mais explicito na maneira como cada movimento em um dos “bichos” de Ligia Clark implica em uma total mudança da peça, implicando em sua animação. 


“B8 Bólide Vidro2” de 1962/1964, de Helio Oiticica


“Bicho” de Lygia Clark, de 1960.
Fonte: Acervo Pessoal.

É de vital importância afirmar que embora estes ambientes apresentem obras de natureza evidentemente contrastante, não necessariamente se tratam de obras de períodos tão distantes. Este fato nos permite ilustrar a “historia não-linear” de nossa arte, e evidenciar como o modernismo brasileiro se desenvolveu através de “surtos” , de modo que cada artista buscou sua própria poética. Estas constatações nos permitem ilustrar como o modernismo brasileiro tem um “caráter bastante diversificado” 
Estes dois ambientes de exposição são predominantemente neutros, com paredes de tinta acrílica branca. As obras estão fixadas ou na própria alvenaria  ou em painéis abrigando conjuntos de obras dos mesmos artistas, de modo a neutralizar o impacto do espaço na absorção do conteúdo das obras.

Com a exceção de algumas gravuras, no primeiro ambiente mais “tradicional”, os espaços vazios do segundo ambiente são ocupados por objetos tridimensionais. Suas respectivas identificações, no entanto, se encontram nas paredes e evocam uma certa dificuldade na orientação do visitante. 


6 comentários:

Victor Dariano disse...

muito bom o artigo, espero que você consiga todos os pontos culturais que ainda faltam hehehe.

díficil análisar uma exposição sem estar presente, mas é legal a descrição e a análise que fez.

Unknown disse...

vlw victao!
ainda falta um pouco mas com mta fé e redbulls vou conseguir ahauah!
mto legal esse iac, sempre tem coisa nova e fica do lado do mack, quando tiver lá por perto n deixe d conferir!

Arthur Francisco disse...

(Vou bancar o engenheiro funcionalista:)

Cara... me explica a técnica, a construção e o conceito do B8 Bólide Vidro 2. Tá osso...

Unknown disse...

ahauahauh isso é um post a parte mr. francisco!
infelizmente preciso consultar minhas anotações da visita para responder isso dai, mas acho que reposta completa mesmo só da curadoria!
mas um dos objetivos, seguramente, foi a interação com o usuário!vc pode misturar as diferentes areias do boloide nos seus recipientes!hoje nao mais é claro, mas era a ideia original, assim como os bichos de Clark!

Unknown disse...

ahauahauh isso é um post a parte mr. francisco!
infelizmente preciso consultar minhas anotações da visita para responder isso dai, mas acho que reposta completa mesmo só da curadoria!
mas um dos objetivos, seguramente, foi a interação com o usuário!vc pode misturar as diferentes areias do boloide nos seus recipientes!hoje nao mais é claro, mas era a ideia original, assim como os bichos de Clark!

Anônimo disse...

mto bom!!!
=)