Pesquisa sem frescura

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

A Casa Bola

Eis que em um dia em meio a um passeio de carro no Jardim Europa, me deparei com uma forma estranha na marginal da avenida. Em meu segundo ano da faculdade já tinha tido contato com esta peculiar obra arquitetônica, e apesar de considerar o resultado não muito agradável esteticamente, me maravilhei com a maneira como o programa foi trabalhado nesta residência.

São níveis e subniveis e pavimentos intermediários, nichos que viram camas, espaços aparentemente inconvenientes para com a escala humana, mas que acabam por revelar espaços de qualidade arquitetônica incrível.

As duas casas bolas produzidas por Eduardo Longo são resultado de muita experimentação acerca da verdadeira essência não só do espaço arquitetônico mas como de untesilios domésticos comum. Essa experimentação veio de sua concepção prévia de blocos de apês esféricos. Eis que surge sua tentativa de inserir um programa residencial comum e compatível com o mercado imobiliário da época em uma forma tão peculiar, culminado na aproximação de seu objetivo segundo relatos do próprio autor.

Me incomoda, no entanto, a noção de que uma forma pré-concebida acabou por submeter seu entorno as suas conseqüências sumariamente.

Uma justificativa cabível para tal pré-concepcao formal seria toda a experimentação na qual o arquiteto Eduardo Longo se submeteu para chegar a este projeto. Esta linha de pensamento, se levada em conjunto com “Arquitetura e Limites” de Jacques Derrida, pode ser classificada como uma obra no limite, cuja importância embora subestimada, é vital para o desenvolvimento da produção “mainstream”.

E analogamente aos velhos argumentos de defesa da residência de Niemeyer no Rio, o arquiteto submeteu somente a si mesmo a incumbencia de vivenciar a arquitetura de sua primeira casa bola (no segundo casao foram seus pais). Se fosse um projeto para terceiros, seus contestadores teriam muito mais munição,mas como sao seus pais entramos em uma zona neutra.
Mas vale a pena ressaltar que como esta forma surgiu algumas vezes na obra do arquiteto, é obvio que a forma da bola, esta presente em intrinsicamente em seu psique e é recorrente em sua linha de trabalho.

Gostaria de saber a opinião de vocês acerca do impacto da forma pré-concebida na sua produção arquitetônica, mesmo que esta se de propositalmente ou intrinsacemente.
Eduardo de Almeida classifica esta obra com uma justificável precaução como uma “tese a ser explicada”, já Vinicius Andrade segue as linhas de Derrida e destaca a importância do conceito.

Minha reflexão acerca desta obra me revelou que em meus projetos percebo uma forte recorrência de curvas e inclinações, será que isto revela algo acerca de minha personalidade?meu subconsciente?Estas formas, embora recorrentes nas mais diversas maneiras sempre se manifestam inconscientemente nos meus projetos e até mesmo em projetos regidos pela geometria pura.

Me pergunto se esta minha reflexao seria exemplo de uma paradoxal junção da forma pré concebida e a solução do problema arquitetônico.

A primeira Casa Bola, no Jardim Europa, em São Paulo
-o cara se diverte: sai de casa no maior esquibunda!!-

plantas:



A segunda Casa Bola




Neste vídeo fica claro que seu interior revela que a pureza inicial da esfera se dissolveu em uma organicidade, aonde a "built in" furniture que salta da vedação da casa parece ser um primo distante das tendências liquidas de Franklin Lee.

7 comentários:

Unknown disse...

highlights do video: o esquibunda dos dois, e a mina caindo da rede haauhaau

gabriel disse...

saudades das aulas do oseki...

a obra do longo é eco tupiniquim do metabolismo/megaestruturalismo, mas ainda tem muito de fetichismo de arquiteto

Arthur Francisco disse...

It´s Big. It´s Blue. It´s a Ball.

Há prós e contras para esta casa, não? Tem 500 quartos, mas não tem armários. Difícil pensar que alguém consiga viver sem o mínimo de armazenamento. Os interiores são suaves, bem desenhados: o cara tem que dominar desenho de embarcações. Concreto é um material questionável para formas redondas... muitas formas (duvido que ele tenha usado algum sistema de formas inteligentes à época) e o resultado final da concretagem é uma bola "espancada". É divertida e despojada. O prédio de apartamentos bola é muito mais plástico que prático. Há muito desperdício de material quando o conjunto não é pensado como conjunto, mas por células.

Por último, o comentário dispensável. Eu, Arthur Santos Francisco, sob total responsabilidade das minhas faculdades mentais, afirmo que a casa é feia que dói (ser esférica não pressupõe que é bonita). Desculpem a futilidade.

Abrass!

Victor Dariano disse...

eu sabia da existencia da casa, e sempre passei por ali perto, mas nunca liguei o "nome" à "pessoa" hehehe
sempre achei que aquilo fosse alguma aberracao tp buffet infantil ou alguma loja despojada...

na minha opinião a execução ficou meiaboca...o projeto até que é legal mas eu (e imagino ninguem) conseguiria viver sem "stuff" tenho mta tralha no meu quarto, precisaria de umas 3 bolas só pras minhas coisas hahaha

Quanto às formas preconcebidas, que acho que é a maior questão levantada pelo felipe, acho que todos temos, por mais metódicos que sejamos no ato de projetar, vejo isso quando tento criar musicas ou escrever algo...por mais logico que seja o processo, sempre ocorrem "vicios" que no caso da arquitetura e do design podem ser formais, conceituais, ou não

Arthur Francisco disse...

Mas existem formas pré-concebidas que são uma coleção de soluções conquistadas, e outras que são aventuras formais.

Unknown disse...

Wooow, realmente vocês tem razão!!!
O closet do quarto dele é minúsculo e a execução não é lá essas coisas né!!Mas cá entre nós, o primeiro emprego das pessoas que chegam em São Paulo acaba sendo a construção civil, então é realmente surreal querer cobrar uma boa execução nesta cidade.
O quanto nossa arquitetura sofre devido a precariedade da execução é realmente incrível não acham? As vigas de Niemeyer que o digam ahuahauah!!
Mas voltando ao tema da forma pré concebida, gostei muito da colocação do Artur sobre como estas “seriam uma coleção de soluções conquistadas”. Já que deu certo, para que mudar né heauah? Com a experiência na profissão, espero conter meus anseios artísticos de modo que esses vícios, como o Victor disse, evoluam mesmo para a concepção já citada do Artur e evitem a gratuidade da forma....nao importando o quanto isso seja difícil de perceber para os que ressaltam a estética acima de muitas coisas!!!

Arthur Francisco disse...

Não sou nenhum teórico "power" sobre estética, mas acredito que ela (em colocações sérias) incida sobre dois campos: partido e tectônica. A pegada forte do Eduardo é no partido: a forma puxa para si o peso estético do projeto, que esbarra, quase que em conflito, com a tectônica. A mão-de-obra pode ser precária, mas a técnica de construção disponível à época dificilmente atingiria graus de acabamento muito melhores. Mas acho que uma crítica verdadeira é a própria maquete que aparece no vídeo. Ela sim exprime uma idéia mais aprimorada pelo próprio arquiteto.